Hisla Grillo
3 min readAug 30, 2020

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Colapso Cultural e o Gênero “Humano”

Inspirado na entrevista dada por Camille Paglia ao Roda Viva, este artigo tem por finalidade discorrer sobre algumas de suas inferências que, em si mesmas, já descaracterizam inúmeros equívocos dos saberes aplicáveis.

Ensaísta e crítica cultural que discorda da maioria das vertentes feministas, ativistas e acadêmicas. No primeiro momento parece contraditório, justamente, porque ela mesma pertence a esses seguimentos. Seriam então esses movimentos contraditórios?

Camille é uma ateísta que defende o respeito à religião, e, ainda faz críticas à postura ‘cínica’ na arte, sua própria área de atuação. Paglia reconhece o papel histórico da religião, inclusive a considerando como fonte de valor enriquecedor em relação ao estruturalismo, que para muitos é a sua religião. Para Paglia religiões são como “vastos sistemas simbólicos que contêm verdades profundas acerca da existência humana”.

Quanto à cultura ocidental, Camille faz algumas associações com a política, sociedade e o sexo. Inclusive propõe mudar a forma como se vê e se reflete as imagens da vida moderna. Aponta a ficção científica do século XX como uma projeção futurista para extinguir as diferenças entre os sexos. Aborda possibilidades de desastres sociais, afirmando que assim como houve a queda de Roma, igualmente o Ocidente poderá decair.

Para ela há distinções entre os sexos, e, no caso de culturas ‘sofisticadas’, os sexos tenderiam à unificar-se e com isso a sociedade poderia decair, portanto, seu recomeço estaria na reparação. Para Paglia existem fatos que a teoria de gênero se recusa a reconhecer, como, por exemplo, as diferenças biológicas. Não concorda que os homens sejam vistos como ‘inimigos’ sociais, mas, acredita na interdependência de ambos, em outras palavras, diz que o mundo não deve ser nem machista e nem feminista.

Ela afirma que a energia ativa dos homens construiu e conservou as civilizações, e, a mulher moderna em muito se beneficiou disto. Porém na tentativa de tomada de poder, a mulher pode acabar por sobrepor-se ao homem, incorrendo em abdicar-se do seu próprio papel. Parece-lhe ingrato que a mulher moderna negue todo o trabalho que o homem fez até então. Quem sairia arriscando a sua própria vida, no meio da noite em favor dos outros – senão eles, os homens?

Analisando o comportamento de homens e mulheres, ela não está certa de que dado às mudanças nas relações familiares e de trabalho, os níveis de felicidade humana tenha de fato elevado. A sensação de infelicidade teria haver não somente com a questão sexista, mas o caráter desumanizador.

O feminismo se isolou de forma a conversar apenas consigo – um ‘clubismo’, onde vozes femininas divergentes são cerceadas. Ainda no contexto feminista, a escritora existencialista, Simone Beauvoir foi supra interpretada, quando na verdade apenas fez parte de um contexto isolado e tipicamente francês.

Sua vida pessoal e acadêmica colabora nas suas convicções. Paglia nasceu no final dos anos 40, quando os papéis sexuais eram vistos de forma mais polarizada. Ela identificou-se como transgênero – por disfunção de gênero. E ainda assim, afirma existir fundamentalmente dois sexos que são determinados biologicamente, e outra área intermediária compreendida por um número restrito de gêneros ambíguos autênticos.

Sugere que a propaganda transgênero faz alegações muito infladas sobre a pluralidade de gêneros. E que a cirurgia de redesignação não pode efetivamente mudar o sexo. E mesmo que um indivíduo assim o faça, toda célula do corpo humano seguirá codificada para o seu nascimento biológico, além de também considerar a existência de base biológica para o comportamento dos sexos.

Afirma ser contrária ao incentivo à intervenção cirúrgica, por ser invasivo e ilusório, uma vez que, promete algo que não pode cumprir efetivamente. A intervenção e/ou terapia hormonal precoce, para ela, se trata de uma forma de abuso. Sugerindo inclusive que deveria se esperar uma idade mais apropriada, considerar fatores associados, pois as pessoas mudam a sua concepção do mundo, quiçá de si mesmas.

A mesma salienta que há um padrão histórico cíclico em relação à decadência cultural, onde através de uma análise dos períodos anteriores, evidencia-se que diante de uma cultura em declínio, há o surgimento de fenômenos transgêneros, o que seria sinal de um colapso cultural. E ainda sugere que ao invés de elogiar o liberalismo, ela se preocuparia mais com a forma em que a Cultura Ocidental está se definindo para o restante do mundo e as consequências disso.

[Por] Hisla Grillo em 30/08/2020

Referências Bibliográficas:

Paglia, Camille. Programa Roda Viva Internacional. Disponível em: https://youtu.be/KlYR1isM2o8 Acesso em: 21 ago. 2020.

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